quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Grande Reportagem

Eros ou Agassi, Amor de Irmãos


2ª Parte

Por Elismar Pinto


Tina tinha problemas de insônia, precisava tomar remédios para dormir, três miligramas de nitrazepan quase todos os dias, de modo que ela não acordou quando eu comecei a acariciá-la. Toquei primeiro os cabelos, eram compridos e cheios, cheiravam a shampoo, depois o rosto, em seguida os seios, a barriga, as coxas, me demorei um pouco nesse sensível local, até perceber que Tina inconscientemente estava reagindo às minhas carícias.


E finalmente toquei o seu sexo, limpo e imaculado, aos dezoito anos a Tina ainda era virgem. Apesar de sonolenta ela reagia de modo muito convidativo ao meu toque, e eu, ansioso, eufórico e repleto de desejo, deleitava-me com as suas reações. Quando percebi que a sua excitação chegava ao extremo, decidir possuí-la de uma vez.

Com um movimento mais brusco Tina acordou, não percebeu de imediato o que estava acontecendo, mas viu que eu estava nu e ela também. Pensei que ela fosse fazer um escândalo, mas não fez. Limitou-se a se cobrir, e a ficar a me olhar de modo estranho.

Com o tempo ela percebeu o tipo de sentimento que nutria por ela. E para minha surpresa ela não se afastou de mim como eu achei que faria. Tina era inteligente, tinha uma mente aberta, desde cedo eu a apresentei ao mundo da literatura, a minha segunda paixão. O primeiro livro que ela leu foi “Xisto no Espaço” da coleção Vaga-Lume. Ela gostava de poesia, música, filmes e seu sonho era estudar filosofia. Tina era diferente de muitas garotas que costumamos encontrar em bairro de subúrbio, ela era culta e não ligava muito para nada, gostava de desafios de quebrar tabus. Talvez isso tivesse contribuído para a aceitação do meu sentimento para com ela.

Numa noite de sexta-feira aconteceu o inevitável, eu a agarrei, ela recusou-se a princípio, mas depois não sei por qual motivo (acho que também me desejava) ela cedeu. No primeiro dia um beijo. Depois um carinho mais intimo. Semanas depois Tina já me aceitava em sua cama. Sem culpa, sem medo, nos amávamos.

Eu vivia para ela, dividia a minha vida, os meus livros, a minha literatura, a minha alma.Tenho certeza que ela também, eu via nos seu olhos, nos seus gestos, na sua voz. Éramos perfeitos um para o outro, nos entendíamos muito bem, éramos companheiros, amigos, amantes, irmãos. Tudo em nós dava certo, gostávamos das mesmas coisas, fomos criados juntos. Éramos plenos, como uma coisa tão bonita pode ser proibido? È essa sociedade hipócrita, prenhe de valores que não cumpre, feliz pela barriga que a todo o momento exibe orgulhosa ,permanecendo, todavia, os valores inascentes.

Até um dia em que ela aceitou um convite para ir à igreja. Adventista do Sétimo Dia foi o nome da nossa desgraça. Tina mudou, não foi de repente, foi aos poucos. O nosso sofrimento foi assim, em doses homeopáticas. Cada dia me tiravam um pedacinho. E no final me tiraram a Tina, não sei bem o que aconteceu, não sei se ela contou sobre nós, mas ela começou a me evitar e ir mais a maldita igreja.

Não queria mais me beijar, não me deixava tocar nela direito. Quando agente fazia amor, sentia culpa no seu prazer, vergonha nas suas feições. Ela não se negava para mim, nem me chamava para ir a igreja com ela, fazia pior, me tratava com indiferença. Eu sentia como se não mais fizesse parte da sua vida, e isso para quem ama é o fim. E foi.

Certo dia chego da faculdade, e encontro a Tina, no quarto, quieta, dormindo. Dormia pesado por causa dos remédios, eu já estava acostumado, mas nessa noite ela estava diferente, imóvel, olhos levemente abertos, e uma baba espessa no canto esquerdo da sua boca.

Aproximei-me, chamei-a pela primeira vez, Tina, Tina acorda, não queria acreditar, ela sempre dormia tão pesado. Na minha agonia levei meia hora sacudindo a minha irmã. Não queria chamar ninguém, e em meu desespero nem queria examiná-la direito.Não queria constatar o óbvio. No reflexo, olhei para o lado e vi a sua cartela de comprimidos vazia.....

“Ana Cristina começou a freqüentar a igreja por que quis, não forcei ninguém a nada, a convidei ela aceitou e pronto”. Disse D. Adelaide Anunciação Souza, de 55 anos, obreira da igreja e vizinha da família. “Sempre achei o comportamento desses dois muito estranho. Como eu sou vizinha de “parede” dá para escutar quase tudo que se passava do outro lado”.

O Alto de Coutos é um bairro razoavelmente grande e igualmente desordenado. Casas amontoadas, ruelas escuras, becos estreitos, uma casa em cima da outra. Um típico bairro pobre e mal estruturado. De modo que não dá para esconder nada de ninguém por muito tempo. E D. Adelaide utilizou essa característica como desculpa para explicar como ela sabia tanto sobre o casal de irmãos.

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