quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Reportagem

ONG gera renda e diminui a violência no Subúrbio Ferroviário



Por Elismar Pinto

Moradora antiga do bairro do Alto de Coutos, a dona de casa Maria Cavalcante de Souza, mais conhecida como D Penha, acompanhou de perto toda a metamorfose que o local sofreu desde que foi fundado no começo dos anos setenta até agora.


Ela afirmou que ajudou a criar o bairro, que derrubou as árvores e ateou fogo nos capins. E descreveu às dificuldades que existia antigamente, quando o bairro tinha mais violência e não tinha água nem luz.
Para Penha, essas transformações foram decisivas para o crescimento do local. Crescimento no sentido bem denotativo da palavra, pois o bairro cresceu, porém em muitos aspectos não se desenvolveu, afirma.

Atualmente, o bairro conta com uma ONG chamada Pé de Moleque, oficialmente capitaneada pela agente comunitária Vera Lúcia Nunes. Criada no segundo semestre desse ano, a ONG tem por finalidade promover oficinas de dança, teatro, artesanato, reaproveitamento de alimentos.
Segundo Vera, futuramente a ONG irá contar com um curso pré–vestibular. “O curso será totalmente gratuito e, voltado para as famílias de baixa renda”. Ela também afirmou que todas as oficinas oferecidas pela instituição são voltadas aos moradores do local e para as famílias que não possui renda fixa. ”Queremos ensinar crianças, jovens e adultos, a ter uma profissão, a ocupar o tempo com algo. Principalmente as mulheres, muitas das quais, donas de casa e mãe solteira, a aprender uma atividade poder ganhar dinheiro com ela e sustentar a sua família com dignidade”.

Penha é aluna da instituição e afirmou que antigamente não existia nada disso e, que ninguém se preocupava em criar meios para a melhoria do local e dos moradores. Tudo que existia era mato, violência e descaso. “Ao olhar do quintal da minha casa, eu tinha a impressão de estar no meio de uma grande floresta. Tudo o que eu conseguia ver era coqueiros, gameleiras, trepadeiras, jaqueiras, mangueiras, árvores de muitas espécies, plantas exóticas com verdes de todos os tons. E entre elas, algumas casinhas aqui e acolá cercadas de mato”. E continua ironicamente. “Certa manhã chega o “progresso”, em forma de tratores, maquinas gigantes que trabalhavam sem parar”. E continua melancólica: “primeiro cortava o capim, depois tapava os buracos e por fim derrubava as árvores. Aos poucos, as diferentes tonalidades de verde deram lugar para um enorme espaço vazio, com um chão de terra avermelhada, que a cada dia que passava era ocupada por uma minúscula casinha de taipa, e depois de bloco, e depois de lage, e atualmente há tantas casas, que é até difícil separar uma da outra”.

Segundo o lider comunitário Adilson Cerqueira, o bairro não progrediu. “Me refiro à estrutura física do local. Apesar de todos esses anos, algumas pessoas ainda sofrem sem água encanada, algumas famílias ainda utilizam água de poços. As ruas não são pavimentadas, exceto a rua principal, e não há coleta diária de lixo, sem mencionar a criminalidade”.

De acordo com Adilson Cerqueira, a ONG Pé de Moleque, está contribuindo bastante com a diminuição da violência no bairro. O Soldado do único e desprotegido módulo policial do bairro, o PM Elmo de Souza disse que muitos jovens que outrora criavam problemas, agora podem ser encontrados em alguma atividade oferecida pela ONG.

Vera afirmou estar esperançosa com essa iniciativa e, muito orgulhosa em poder estar contribuindo de maneira tão significativa para a melhoria do seu bairro. “Moro aqui a mais de vinte anos e sei o quanto é difícil mudar as coisas, principalmente aqui no subúrbio. Um lugar tão discriminado e esquecido por muitos. Espero que a Pé de Moleque dê muitos frutos e que esses frutos gerem sementes que futuramente modifique a nossa realidade”.

Penha falou que desde que entrou na oficina de pintura da Pé de Moleque já vendeu 24 blusas. ”Eu mesma pintei, com a técnica que aprendi aqui” disse orgulhosa.