quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Grande Reportagem

Eros ou Agassi, Amor de Irmãos


3ª Parte

Por Elismar Pinto


D. Adelaide além se ser obreira é dona de casa. Ela é uma criatura falastrona, de olhos grandes e arregalados, sempre usa saias muito compridas e o cabelo amarrado em um rabo de cavalo bem no alto da cabeça, tem estatura mediana, é magra e aqui na Bahia pode ser chamada de morena. Apesar de ser viúva afirma que ainda tem muito sangue na veia. “Ainda tenho esperança de encontrar uma pessoa para tomar conta d
e mim” Afirmou ela esperançosa. Para minha sorte também não se importou em falar sobre o caso.

“Como as pessoas aqui moram muito próximas, são obrigadas a criar uma estratégia para preservar a sua privacidade”, disse ela. “Eu não devia falar isso para você, mas como você também mora aqui....Quando os casais querem ter intimidade, fazer “aquilo” durante o dia, eles ligam o rádio bem alto, para os visinhos não tomarem parte. Eu já sei identificar os sinais. Se durante o dia fechar as portas e ligar o som alto, já vão pecar”.

Segundo ela, Luiz e Ana Cristina não faziam isso, de modo que dava para ouvir tudo. Continuou ela. “Eram uns gemidos estranhos que no começo eu pensei que era ele que estava levando rapariga para dentro de casa. Fiquei estarrecida quando constatei que não. E tratei de direcioná-la para o caminho da salvação. Da primeira vez ela recusou, mas com a minha insistência ela acabou aceitando.

“Sei que Luiz até hoje tem raiva de mim, já entreguei a alma dele a Deus. Pois um pecado como o que eles estavam praticando só mesmo Deus para perdoar. Não sinto nenhuma culpa, sentiria ser tomasse conhecimento do fato e não fizesse nada, estou com o coração limpo e sei que ela tirou a própria vida por causa da sua culpa e não por causa da minha igreja”.

Dona Adelaide ainda mora na mesma casa, continua vizinha de “parede” e assegurou que se pudesse voltar atrás teria feito a mesma coisa, só que dessa vez ficaria mais perto de Cristina.

“Eu gostava muito de Cristina, se naquela época ela me quisesse, hoje eu estaria casado com ela”. Confessou-me o pedreiro Claudio de Araújo Nascimento de 45 anos. (a cada dez homens no Alto de Coutos oito são pedreiros, inclusive o meu pai) Atualmente ele está casado e é pai de três meninos. “Cristina era a menina mais linda que tinha por aqui”. Afirmou Cláudio, “olhos castanhos, cabelo comprido, pele fina e baixinha, bem do jeito que eu gosto. Agente nunca namorou direito, o irmão dela não deixava de jeito nenhum, era a criatura mais ciumenta que eu já vi. Eu achava que era por que ela não tinha pai, ou por que ela era muito nova (Tinha 16 na época), mas depois que ela morreu fiquei sabendo que era por causa do irmão que queria ela para si”.

A coitada tomou uma caixa de remédio inteira. Maior do que o sentimento da sua perda foi o ódio que eu senti do excomungado do Luiz, dormir com a própria irmã?Aquele lá quando morrer vai direto para o inferno”.

O Pastor da Igreja Adventista do Sétimo dia Josevaldo de Jesus Pereira de 62 anos, não quis aprofundar-se no assunto, limitou-se a dizer que soube do caso por meio de um membro da igreja e fez o seu papel de pastor. “Aconselhei, como aconselharia qualquer fiel que viesse me procurar, sabia que ela era órfã de pai e mãe, só tinha o irmão para tomar conta e não podia colocar um contra o outro. O que eu fiz foi com que ela reavaliasse os seus conceitos de bem e mal, de certo e errado”.

Josevaldo além de pastor é professor de música e na época era estudante de filosofia pela Universidade Federal da Bahia. “Eu acredito que foi isso” Afirmou Luiz. “Tina era fascinada por filosofia e certa vez falou-me sobre ele, que era o cara mais inteligente que ela tinha conhecido na vida. Não gostei muito, até então esse posto era meu, de modo que fui obrigado a ir ao culto só para conhecer a figura. Escondido da Tina, lógico! Ele de fato tinha um discurso muito envolvente, tinha o “dom da palavra”, o seu poder de persuasão era muito forte chegou a impressionar-me. Eu acho que foi isso, impressionou a minha irmã também.

Na teoria psicanalítica freudiana, o desejo incestuoso é tão ou mais antigo quanto a humanidade. Ele aparece muitas vezes na mitologia greco-romana. Como quando Zeus deus do trovão se disfarçou de serpente para seduzir a própria filha Perséfone, ele ainda é casado com sua irmã Hera deusa da fidelidade. Assim também Édipo, que assassinou seu pai Laio e coabitou com a própria mãe, Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua mãe, Édipo furou os próprios olhos e Jocasta suicidou-se. Ainda, no Antigo Testamento Abraão era casado com a sua meia-irmã Sara.

Aceita sem restrições nem juízos morais entre as divindades de inúmeras religiões, a união entre parentes de primeiro grau era admitida também entre vários imperadores, considerados os representantes dos deuses na Terra. A exemplo do imperador Romano Calígulas César que durante muito tempo manteve relacionamento incestuoso com sua irmã Drusila. No Brasil o Regente Diogo Antonio Feijó, por exemplo, vivia maritalmente com sua irmã.

Com o passar dos anos, todavia, o incesto foi proibido entre os povos comuns. O assunto permeia a história humana e já mereceu destaque na literatura, no cinema e no teatro.
No cinema o assunto sempre foi tratado com certo entusiasmo, posso citar grandes obras como o polêmico La Luna, longa de Bernardo Bertolucci, que conta o drama de uma famosa cantora lírica Caterina Silveri (Jill Clayburgh) que descobre que o filho (Matthew Barry) está envolvido com drogas, começando aí um inescrupuloso relacionamento incestuoso entre eles.

Destaque também para o brasileiro Amor, Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri, estrelado por Vera Fischer e Xuxa Meneghel, drama erótico em que a prostituta Anna (Vera Fischer) tem relações sexuais com seu filho Hugo (Marcelo Ribeiro) de doze anos.

E agora mais do que nunca o tema volta à baila com a história do austríaco Josef Fritz, de 73 anos, que confessou ter mantido em cativeiro, sua filha Elisabeth durante 24 anos. Josef Fritz admitiu que submetia Elisabeth a repetidos abusos sexuais que resultaram no nascimento de sete crianças.

De acordo com a hematologista Daniela Messias do Hospital das Clínicas o efeito genético da consangüinidade nos genes familiares é muito perigoso e aumenta exponencialmente a possibilidade de manifestação de doenças e mutações.” Os genes ruins tem uma probabilidade bem maior se serem transmitidos aos filhos, por estarem presentes nos dois cônjuges. Algumas doenças genéticas por exemplo, que não seriam normalmente transmitidas por serem recessivas, acabam acontecendo. “Existem muitas doenças relacionadas ao assunto de modo que a proibição do incesto está mais alicerçada na proibição biológica do que em um tabu cultural.

“Incesto termo que veio do latim in castus, ou seja não casto, impuro. Incesto é a relação sexual ou marital entre parentes próximos ou alguma forma de restrição sexual dentro de determinada sociedade”.Essa definição pode ser encontrado em qualquer dicionário, todavia, a sua definição é infinitamente mais ampla.

“A proibição do incesto, representada através dos mitos, religiões e códigos é uma regra universal. A proibição do casamento entre parentes próximos pode ter um campo de aplicação variável, de acordo com a definição de parentesco, mas a proibição ou a limitação das relações sexuais está presente em qualquer grupo.

Desta forma, a proibição do incesto situa-se no limiar entre a natureza e a cultura. Entendemos que, por detrás da necessidade de tamanha proibição, só possa existir um desejo universal equivalente”. “Para que, então, o incesto é proibido? Várias teorias têm sido utilizadas para explicar a finalidade desta proibição”. “Estas podem ser divididas em biológicas, sociais e psicológicas”. Esses pensamentos estão contidos nas idéias de Claudio Cohen e Gisele Joana Gobbetti no artigo O Incesto: O Abuso Sexual Intrafamiliar.

Ainda Cohen e Gobbetti, afirmaram que segundo as teorias psicológicas, “a não atuação do incesto permite a diferenciação e a simbolização de funções dentro da família (pai, mãe e irmãos), possibilitando o desenvolvimento do indivíduo e da família. Nesta perspectiva, a proibição do incesto é um fator organizador, demarcando limites”.

Apesar de condenável na nossa cultura, não fica explícito em nossos Códigos. O Código Civil Brasileiro de (1916), limita o casamento entre parentes próximos até terceiro grau, já o Código Penal (1940) considera o grau de parentesco como agravante dos crimes contra os costumes. Não há uma punição grave para os infratores.Seus filhos são considerados legítimos e não perdem nenhum direito. Em alguns países ou jurisdições, entretanto, este tipo de casamento é proibido por lei, como na Alemanha, em que os casais são presos e os filhos lhes são tirados e encaminhados a uma instituição para menores órfãos, lá o incesto é denominado “Coito Ilegal”.

2 comentários:

Blog de Hélio disse...

Elismar,

Seu blog está FANTÁSTICO! Seus textos são perfeitos. Você escreve muitíssimo Bem. PARABÉNS! Você nasceu para ser escritora, e não, Jornalista. Vou indicá-lo a algumas pessoas que conheço.

Pense em escrever livros.



1000 Bjs,

Hélio.

Blog de Hélio disse...

Parabéns pelo talento.