quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Notícia

Acumulo de lixo aumenta casos de Infecção Respiratória Aguda na periferia de Salvador

Por Elismar Pinto

Os dados foram confirmados pela médica sanitarista Rosa Maria Trindade. Ela afirmou que o número de casos da doença cresceu mais de 40% em relação ao mês de agosto. “Estou diagnosticando praticamente o dobro de casos de IRA (Infecção Respiratória Aguda) aqui na comunidade do Alto de Coutos, especialmente nos idosos e nas crianças”. Segundo a estudante Ladailza Gonçalves Teles, moradora do bairro, o carro do lixo além de não passar todos os dias, passa apenas nas ruas que são pavimentadas. Os moradores que não querem ver o seu lixo acumulado acabam queimando. Só que essa atitude, é que segundo a médica, está fazendo gerar esse aumento dos casos de IRA. “Procuro orientar as pessoas a não queimar mais o seu lixo, só que a consciência tem que partir delas.” Diz a sanitarista.


Para a agente comunitária de saúde, Aldalice Nunes do Sacramento, o lixo é causador de inúmeros problemas, porém ela destacou as queimadas. “O trabalho do agente comunitário é levar informação e orientação para a comunidade, sobre questões como saúde, meio ambiente, cidadania e educação. Porem, algumas pessoas não têm consciência dos problemas que estão causando para si quando jogam um simples papel no chão, ou com preguiça, ao invés de jogar o lixo no coletor, o queima em seu quintal.

Com essa atitude além de poluir o ar, contribuiu também para o aumento do número de crianças acometidas por doenças respiratórias”.
A queima do lixo pode ser provocada ou natural (autocombustão ou reflexo dos raios solares). A queima, se não planejada, pode causar inúmeras conseqüências, pois, lança no ar dezenas de produtos tóxicos que variam da fuligem (que afeta os pulmões) às cancerígenas dioxinas resultantes da queima de plásticos.


A médica, também chamou atenção para o chorume (líquido resultante da lavagem dos lixões pelas águas das chuvas). E disse que é um grande causador de doenças. “O chorume é dez vezes mais nocivo que o esgoto”. Ela também afirmou que, ele é tão perigoso, que dissolve metais pesados de alta toxicidade como resinas, tintas, compostos químicos, contaminando o solo e impedindo o crescimento das plantas. Isso tudo sem mencionar o mau cheiro, a poluição estética, e a presença de vetores como moscas, baratas, ratos, pulgas, mosquitos e escorpiões. Ela destacou também, que pode ser um atrativo para aves como pombos principais transmissores da peste bulbônica.


Entre algumas enfermidades relacionadas ao acúmulo de lixo, a médica citou as mais comuns que são a febre tifoide, peste bulbônica (transmitida pelos pombos), cisticercose, cólera, giardíase, leishmaniose, leptospirose, salmonelose, toxoplasmose, tracoma, triquinose, disenteria e outras mais.

Para ela, todas diretamente relacionadas ao acúmulo do lixo. “Quando o lixo fica muito tempo acumulado ele contamina as fontes e os rios através do chorume. Pode se infiltrar até nos tubos de água e, é a principal causa de vômitos por contaminação, disenterias e desidratação. As crianças e os idosos por serem mais vulneráveis, são os que sofrem mais. Algumas crianças se não forem medicadas e hidratadas a tempo, podem chegar até a óbito”.


O líder comunitário do bairro de Nova constituinte, Adilson Cerqueira, chama a atenção para os resíduos que são lançados nos córregos. “Os dejetos viram comida para as larvas de mosquitos e impedem o fluxo da água se transformando na principal causa de enchentes”. Ele também afirma, que parte desses problemas poderiam ser evitados se as pessoas tivessem mais educação e consciência ambiental. “Muita gente aqui na comunidade não sabe o que é cidadania, joga lixo na rua, não recicla os seus restos, nem sabe a hora que o carro da lixo passa”.


Segundo levantamento da ONU em outubro de 2006, cerca de 16 milhões de brasileiros não tem coleta domiciliar de lixo. O mais grave é que cerca de 64% dos municípios no Brasil depositam os dejetos coletados em lixões a céu aberto.

As latas de lixo servem para armazenar temporariamente os restos, no entanto, como contêineres não são desintegradores automáticos de dejetos, os detritos continuam existindo depois de jogados na lixeira. E o que fazer para resolver esse problema? Segundo o líder comunitário, não há como não produzir lixo, mas pode-se diminuir o problema do acumulo e as doenças com a coleta seletiva. “Não precisa grande coisa, basta separar um saquinho para cada tipo de lixo, assim ele não fica espalhado e os insetos terão maior dificuldade de penetrá-los. Ainda que aqui não tenha os contêineres coloridos, nada nos impede de fazermos a nossa parte”.


Para a médica, a coleta seletiva de lixo resolveria grande parte dos problemas, inclusive as doenças. “As pessoas precisam ter a consciência de que elas podem fazer a sua parte e evitar muitas enfermidades”.

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